Stuff Out: a nova livraria de Lisboa tem milhares de livros em segunda mão – NiT New in Town

Chama-se Stuff Out e é a nova livraria de Lisboa. Fica perto da zona de São Bento e começou como uma plataforma online para venda de livros usados. É um projeto de dois jovens empreendedores assente nos conceitos de economia circular e sustentabilidade.
Pedro Sousa e Rui Castro Prole estudaram juntos na Nova IMS, da Universidade Nova de Lisboa. Pedro, com 25 anos, tirou o curso de Gestão de Informação e começou a trabalhar numa empresa farmacêutica. Rui, com 24, terminou a licenciatura em Sistemas de Tecnologia de Informação, e conseguiu emprego na banca.
Juntos, e numa altura ainda sem grandes responsabilidades financeiras, decidiram deixar os empregos, arriscar e investir o que tinham neste projeto — que entretanto já deu uma grande volta.
“O nosso objetivo era vender produtos em segunda mão. Começámos por vender tudo, recheios de casa completos. O objetivo era fomentar a economia circular e um estilo de vida mais sustentável, tentar dar a perceber às pessoas que não é preciso comprar tudo de novo. Agora já começa a haver algumas marcas de roupa, que só se focam num tipo de artigo, mas não havia ninguém e ainda não há, a fazer isto bem: pessoas novas com capacidade para comunicar com um público mais jovem de forma a explicar que é ok comprar em segunda mão. Há muita gente a fazer esse trabalho informalmente, aquelas instagramers de vidas sustentáveis, mas não há muitas empresas que o façam como um todo. E essa era a nossa ideia original”, explica à NiT Pedro Sousa.
A Stuff Out abriu oficialmente em janeiro de 2020 — antes da loja online. Pedro e Rui conseguiram um espaço de armazém com escritório — ali bem perto de onde agora funciona a livraria — e começaram a vender todo o tipo de artigos (inclusive livros). Em março, desse ano como todos sabemos, chegou em força a pandemia, que fez parar tudo. Isso resultou num “conjunto grande de livros parado no armazém”, que era o que mais continuaram a vender.
“Reparámos que os livros vendiam, que as pessoas estavam a olhar para nós de outra forma e começavam a entender a nossa mensagem de ‘ok, é fixe comprar produtos em segunda mão’. Claro que o preço é um grande fator, os livros ficam muito mais baratos — Portugal é um dos países onde os livros novos são mais caros. E além disso a questão da sustentabilidade: não estamos a produzir algo novo. E uma coisa que tentámos marcar desde o início é que são livros que por si próprio já têm outra história. Às vezes têm uma dedicatória, de alguém que ofereceu aquele livro ao pai, ou têm a assinatura da pessoa que foi o dono do livro.”
Foi a partir daí que se começaram a virar quase completamente para os livros, percebendo que havia uma oportunidade de mercado — e desenvolveram software que pudesse ser usado na gestão diária do inventário e da catalogação. Fizeram vários testes entre agosto e outubro do ano passado e em dezembro renasceu a Stuff Out online — com um site que só vende livros e que se mantém até hoje, com bastante sucesso.
“Os livros são só a forma como arranjámos de passar a mensagem. Percebemos que era a área mais fácil de entrar e de fazer a diferença. Temos a vantagem de o Rui perceber muito, muito de livros. O conhecimento já cá estava, nós é que também não estávamos a saber aproveitá-lo.”
A ideia de terem uma loja física já estava na mente de ambos, mas de repente:. “Há um dia em que estaciono aqui perto e reparei que havia um espaço para alugar — onde é a nossa loja agora”, conta Pedro Sousa. “Liguei para o contacto que lá estava e perguntei se era possível irmos ver o espaço. Fomos ver e percebemos que era perfeito para nós. Era o que precisávamos para crescer. Nós estamos muito perto: a loja é na rua atrás do nosso escritório, onde também é o armazém. Já conhecíamos bem o bairro.”
Em apenas dois dias ficaram com o espaço — que teve de levar obras durante dois meses. O passo seguinte foi contratar Andreia, de 29 anos, gerente de loja com experiência no contacto com os clientes. “É a nossa cara do negócio.” A Stuff Out foi inaugurada a 1 de julho.
Ter uma loja física era um objetivo com várias intenções. “Primeiro: dar credibilidade ao projeto online. Há uma dificuldade em vender livros online em segunda mão, muito porque, com a pandemia, há muitas pessoas a fazê-lo de forma não profissional. Pessoas que criaram uma página no Facebook e estão a vender livros a partir da sua casa. O que para nós é muito difícil porque os clientes que não nos conhecem têm a tendência de pôr todos no mesmo saco. Ou seja, no caso deles não há devoluções. Nós temos de ter: 14 dias de arrependimento, devolução sem questões.”
E acrescenta: “Além disso queríamos mostrar a nossa visão de venda de produtos em segunda mão. Na loja não temos só livros: temos uma mistura de artigos, uns que fomos comprando em feiras, outros que fomos guardando dos recheios de casas, coisas que aproveitámos e lhe demos um propósito, muitas vezes decorativo. Ou seja, a nossa loja não é só livros e o que queremos é mostrar como pode funcionar a decoração de um espaço só com produtos em segunda mão. Temos tido um feedback muito positivo e estou muito contente com o espaço. E é uma decoração em constante mudança. Não é garantido que daqui a um mês o espaço esteja exatamente igual”.
Ou seja, há várias peças decorativas que adornam o espaço — e estão todas disponíveis para venda. Encontra pela Stuff Out, por exemplo, a parte da frente de uma mota antiga, ou carrinhos de serviço de aviões, que são usados como repositores de livros. 
“Agora temos um cartão de visita. As vendas também aumentaram no online, através do site e do nosso Facebook, porque temos um espaço físico e um sítio que dá credibilidade ao negócio.”
A Stuff Out também funciona como espaço de leitura. “As pessoas não têm de comprar. Podem só ir e desfrutar do espaço, falar connosco, conhecer-nos, podemos sugerir livros, podem-se sentar, ler um bocadinho. Temos o caso de estrangeiros que nos vêm pedir livros simples em português, porque estão a aprender. Nós recomendamos e eles ficam um bocadinho a ler para ver se faz sentido.”
Quando a situação de pandemia melhorar, a ideia é tornar a Stuff Out um local de maior partilha, com apresentações de livros e outras iniciativas. “Dar espaço a pessoas que normalmente não têm espaço, autores independentes. A loja para nós não é todo a meta. É só mais uma etapa. Temos ainda muitos projetos na gaveta.”
Através do online, vendem para pessoas de todas as idades — e muito para zonas mais remotas do País, em locais onde não existem livrarias físicas. Apesar de todas as coisas negativas, a pandemia impulsionou o comércio online, o que também foi uma vantagem para Pedro Sousa e Rui Castro Prole.
Este projeto tem todo o tipo de livros. “Nós não encomendamos os livros, vamos gerindo de acordo com o que aparece, o que compramos. Vendemos de tudo e isso para nós não tem problema nenhum. Até porque no online queremos tentar agradar a toda a gente. Há alguma curadoria no sentido de que não vendemos livros em mau estado. Só vendemos livros passíveis de serem oferecidos por alguém.” 
Há três mil títulos à venda na loja. Mas no total, contando com o stock de armazém, chega aos 15 mil. Na livraria estão à venda os melhores e mais originais, com um esforço de curadoria para que haja diversidade. Seja como for, todo o catálogo pode ser consultado online. Existem raridades, histórias icónicas de autores famosos, grandes obras da literatura clássica e livros técnicos. Um pouco de tudo, portanto.
“Claro que há livros que não se vendem e tentamos fazer outras coisas com eles. Temos uma parede de livros na loja. Também somos nós a tentar fechar o círculo, a dar uma vida a estes livros que, de outra forma, tinham de ir para o lixo — faltavam páginas, tinham páginas rasgadas, etc. E acabamos por ficar com muitos livros parados porque não se vendem e nós também não os queremos deitar fora.” 
A Stuff Out está aberta de segunda-feira a domingo, das 11 às 19 horas. Fica no número 70c da Rua da Quintinha, em Lisboa. Pode contactar os responsáveis através do email contacto@nullstuffout.pt ou dos números de telefone 210 109 342 ou 212 416 957.
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