ACERVO
Design é projeto. Um projeto que se deu através de um esforço criativo a fim de desenvolver algo para o bem comum. Design, (do latim designáre) significa “marcar; indicar” e posteriormente do francês désigner, que significa “designar; desenhar”, nada mais é que a forma aliada à função: não adianta ser lindo, se não for funcional, se não cumprir com o objetivo, esperado ou proposto.
No entanto, vemos com frequência salões de beleza aposentando cabeleireiros e contratando “hair designers” ou “designers de sobrancelhas”. Até as manicures viraram “nails designers”. Mania do povo latino de idolatrar outros idiomas, em especial o inglês, a impressão talvez seja a de que tudo em que se tem uma palavra em inglês fica mais bonito, mais “chique”. E assim surgem essas profissões que utilizam o termo designer para – com o perdão do trocadilho — designar tudo o quanto for relacionado com trabalho visual. É um fenômeno cultural: entrega em casa virou “delivery”, maquiagem virou beauty, a pausa pro cigarrinho virou coffee break, o desligado virou off, o livre virou free. Claro que nem todas as palavras podem ser traduzidas e com toda certeza teremos que tolerar algumas, principalmente as que são relacionadas a termos de internet – deletamos, shippamos, linkamos, stalkeamos. E de quem é a culpa? Da supremacia Americana durante anos? Da globalização, do governo PT? Muito dificilmente alguém vai ter uma defesa concreta quanto a isso. A língua é um organismo vivo, mutável e adaptável.
Qual o erro em colocar o termo design em tudo? O propósito. A palavra chave do design é função, como já citamos, e se não há função, não pode existir design. Não é só uma questão de beleza ou de agrado aos olhos. Aliás, a grande confusão disso tudo decorre de uma outra discussão homérica: afinal, design é arte? Arte é design? Será que estão confundindo arte com design?
Arte e design
O design, por estar mais ligado às necessidades do mercado, busca atribuir objetividade em seus trabalhos, podendo também utilizar técnicas artísticas para produzir suas peças. Um exemplo disso é o artista francês Toulouse-Lautrec, que pintava cartazes (um exemplo é a reprodução acima) e exerceu imensa influencia na história do design gráfico mundial. Já a arte busca transmitir algo através de uma técnica, utensílio ou até mesmo utilizando apenas o seu próprio corpo, como é o caso do teatro e da dança, com a simples finalidade de se expressar, sem ter uma preocupação efetiva com a interpretação do público sobre aquilo que está sendo apresentado, ou seja, ela é subjetiva. Portanto, as diferenças entre o design e a arte são as suas intenções e objetivos finais. Enquanto a arte propõe uma interpretação subjetiva de suas obras, o design propõe algo objetivo, onde as pessoas serão capazes de entender e podem vir a comprar o produto e/ou serviço apresentado, ou aderindo a uma ideia, no caso de uma propaganda.
Então, o que é design?
Já que vimos as muitas situações em que o termo design/designer é usado incorretamente, agora vejamos quais são as verdadeiras áreas do design.
Design gráfico
O design gráfico é a área mais conhecida do design – quando se fala que alguém é designer, é no gráfico que pensamos logo. Esse profissional trabalha diretamente com o visual dos produtos: seja imagens para um site, material gráfico, fotografias, formatos ou embalagens. Muitos profissionais de outras áreas (fotógrafos, arquitetos, ilustradores, designers industriais, estilistas, etc) também são designers gráficos e é isso que torna o design gráfico o segmento mais popular e genérico do design. Isso muitas vezes dificulta a valorização do trabalho, então, via de regra, é sempre bom que o profissional se especialize em algum nicho ou ferramenta; saber desenhar, ter uma ótima percepção de cores e de tipografia são alguns dos aspectos fundamentais pra quem quer seguir essa carreira.
Design de interface
Os computadores, a internet e mais recentemente os celulares e tablets geraram um segmento de mercado enorme para a criação de interfaces – em essência, o design de interface envolve o estudo e a criação de telas, botões, transições e layouts para estes dispositivos. O profissional deve pensar em como um usuário leigo vai utilizar o produto, procurando facilitar o uso. O design de interface surgiu como uma divisão do design gráfico, combinando elementos de programação e estudo do comportamento humano.
Web design
Este é um segmento que se mistura ao design gráfico e de interface, formando a ‘pirâmide’ internet. O web designer é o profissional que desenvolve sites, blogs e lojas virtuais, conhecidas como e-commerces. Até um tempo atrás, fazer sites era um trabalho manual e focado no código. Hoje, o foco do web designer é a praticidade, a segurança, o visual e a navegação dos sites – lembrando que os formatos de tela hoje são infindos, logo, o site precisa ser responsivo, ou seja, estar adaptado a abrir, de forma legível, em qualquer uma delas, seja um celular ou um telão. Nessa área, não adianta muito só saber usar as ferramentas de design corretamente. É importantíssimo saber programar para entender como um site funciona de verdade – mesmo se você trabalhar apenas com a parte visual e deixar a programação para outra pessoa.
Motion design
Motion design é a criação de animações digitais com vídeo, efeitos e imagens. É um segmento forte do design porque possui aplicações no cinema, na música, na publicidade e em diversas outras áreas. O resultado é impactante e o processo de criação é demorado e minucioso.
Game design
Enquanto nos anos 80 e 90 as pessoas curtiam os games sem nem imaginar que poderiam colaborar com suas ideias, hoje existem milhares de pessoas lançando jogos. Criar games deixou de ser algo exclusivo das grandes produtoras e trabalhar com design para games é uma mescla de design gráfico, animação, programação, modelagem 3D e design de interface. O desenvolvimento de games é dividido em várias áreas e exige muito conhecimento técnico. É difícil um game ser desenvolvido por apenas uma pessoa (a não ser um jogo mais simples) e por isso é muito bom saber trabalhar em equipe e ter um conhecimento geral do processo.
Design de interiores
Design de interiores é uma área bem ampla que envolve estudo, projeto e criação de ambientes levando todos os aspectos em conta: iluminação, conforto, temperatura, texturas e materiais. Cuidado para não confundir um designer de interiores com um decorador. O designer não vai simplesmente decorar o ambiente – ele vai combinar elementos com base em um projeto detalhado do espaço, materiais, temperatura e iluminação.
Design de produto
Esse é um segmento que voltou com força total depois da popularização das impressoras 3D. Design de produto envolve todas as etapas de criação de um produto, passando pelo rascunho, protótipos e produto final. Atualmente é fácil modelar em 3D e criar produtos básicos sem muito conhecimento técnico, mas quem quer se especializar como um designer de produto deve conhecer a fundo os programas de modelagem.
Design de moda
Design de moda é a aplicação do design na criação de roupas e acessórios. É uma área que mistura elementos gráficos com o aspecto técnico da construção de roupas.
Trabalhar com moda exige conhecimento histórico e o acompanhamento incessante de tendências, e não adianta fazer apenas ilustrações bonitas. Mesmo quem trabalha apenas fazendo estampas precisa ter o conhecimento técnico de como as roupas são feitas, estampadas e finalizadas.
Conheça o trabalho de alguns designers
Demian Lamblet
O designer gráfico Demian Lamblet saiu de Friburgo para trabalhar em uma Game Publisher, empresa que faz o serviço de games online, no Canadá, após ter passado uma temporada naquele país através do programa Ciências Sem Fronteiras. “O design está mais presente do que as pessoas imaginam, apesar de, no Brasil, a profissão ainda ser pouco reconhecida. Porém, essas mesmas pessoas não sabem que o design está o dia todo ao redor delas, desde a embalagem do supermercado, até a ergonomia do banco do carro, nos aplicativos de celular, no site ou no panfleto que elas recebem. Falta reconhecimento não só profissional, mas de iniciativas públicas que usem o design como meio de melhorar a vida das pessoas. A diferença essencial entre trabalhar com design no Brasil e fora daí é principalmente em relação a isso, ao reconhecimento do valor do trabalho. Após quatro ou cinco anos estudando Design, é injusto um profissional em uma capital receber dois salários mínimos, se a sua função é extremamente relacionada com o produto final. No Canadá o designer é muito mais introduzido e valorizado no cotidiano das empresas e da sociedade”. E qual é o futuro do design no Brasil? “Acho que precisamos de algumas décadas ainda. O ensino de design no Brasil completou 50 anos desde a fundação da ESDI em 1963. A presença e importância do design precisam ser reconhecidas e assim o designer será valorizado dentro das empresas e na sociedade. Design é projeto, é forma, função, é resolução de problemas, é empatia e compreensão das necessidades dos envolvidos antes do resultado visual”, conclui Demian. (contato: [email protected])
Bruno Nova
Bruno Nova é designer de moda e participou recentemente de dois projetos, sendo um municipal, o Novos Talentos, onde peças criadas por alunos do Senai Espaço da Moda tiveram suas criações expostas na Fevest, e outro a nível nacional, o Brasil Fashion. “É um projeto com uma mega estrutura, mais de 11 mil alunos de moda de todo Brasil participaram da seletiva, onde apenas 12 foram selecionados. Nesse projeto desenvolvemos uma coleção com a assistência do coach de estilistas consagrados, como Alexandre Herchcovitch, que é o meu coach nessa edição do BF, entre outros como Ronaldo Fraga, Lino Villaventura e Lenny Niemeyer. O desfecho é um desfile profissional de lançamento da coleção que acontece no próximo dia 11, em Brasília, no Museu Nacional”. O designer de moda é o profissional responsável por criar modelos através de sua própria inspiração ou por um tema pré-definido pela empresa para a qual presta algum serviço. A profissão exige uma mente super criativa e talento para transformar a sua ideia em croquis e desenhos técnicos, de forma que eles possam ser interpretados pelos outros profissionais que darão continuidade ao serviço, como modelistas, costureiras. “Por outro lado, alguns designers se aprofundam em todas as etapas de criação, desde a inspiração até o último botão a ser pregado na peça final. E eu faço parte desse grupo”, acrescenta Bruno. (contato: [email protected])
Aline Nabisi
A ilustradora e motion designer Aline Nabisi trabalha com videografismo, ou seja, é responsável pela identidade visual e todo o design gráfico de um vídeo. Vinhetas, aberturas, créditos e encerramentos, bem como a manipulação de imagens segundo a orientação de um roteiro e a supervisão do diretor. “Existe uma preferência hoje, no mercado geral, ou por design estático ou por um tipo de motion que é tridimensional, que não é exatamente a minha estética favorita, por isso ainda é complicado trabalhar na área. Mas eu acredito na animação 2D como estética e estilo, e sigo nessa linha”, diz. (contato: [email protected])
Igor Veronesi
Igor Veronesi é um designer criativo e desenvolvedor web que cria marcas fortes e grandes experiências digitais. Os projetos de Igor não estão focados apenas na estética, mas também na usabilidade e acessibilidade, para melhor atender às necessidades dos seus clientes com a qualidade que eles merecem. É ele o responsável por toda a composição visual do Caderno Light. ([email protected])
Lilian Fernandes
Lilian Fernandes é designer gráfico há 14 anos e desde 2009 vem se especializando na área de designer de interiores. Em 2016, ela venceu uma das etapas regionais do Prêmio Talentos Senac, que premia iniciativas e projetos dos alunos daquela instituição em todo o Estado do Rio. “Depois das etapas locais, o concurso passa por seis etapas regionais, e eu venci a etapa Petrópolis, que abrange a cidade sede, Teresópolis, Paraíba do Sul, Três Rios, Miguel Pereira e Nova Friburgo. Agora, é esperar a final, que vai escolher o melhor projeto de todas as unidades do estado. Estou na torcida!”. Criado em 2011, o Talentos Senac é hoje a mais importante vitrine da educação profissional no estado do Rio de Janeiro. “O design de interiores envolve o uso consciente de elementos funcionais e que ao mesmo tempo sejam acessíveis. Um projeto meu, hoje, é totalmente funcional e plenamente adaptado às situações específicas de cada cliente”, diz Lilian. (contato: [email protected])