Para entrar nas opções do treinador do FC Porto parece ser preciso tirar especialização
Sérgio Conceição tem toda a razão quando diz que «uma coisa é ter contratações, outra é ter reforços». Nenhum clube consegue acertar em cheio cada vez que vai buscar um jogador novo, mas mal estaria o mercado de transferências se apenas Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, «nos seus melhores anos», tivessem logo esse estatuto. O segredo está no rácio, e é aí que tem estado o debate portista.
Por regra, os atletas que chegam ao Dragão sentem dificuldade para reservar logo um lugar entre as opções regulares do treinador. Existem exceções que confirmam a regra, como Alan Varela, mas por cada exemplo como este, do médio recrutado ao Boca Juniors, é fácil apontar dois ou três casos que apontam uma realidade oposta.
Sérgio Conceição diz que «são reforços a seu tempo», mas essa adaptação, tão cuidada, deveria aplicar-se ocasionalmente, a alguém que venha de uma realidade claramente distinta, ou tendo em conta a idade, sem servir de padrão para uma equipa com a exigência do FC Porto.
A situação financeira não pode ser argumento suficiente, quando há um central de 20 milhões na equipa B, por mais prejudicial que seja a comparação aos rivais. No último verão houve um investimento superior a 30 milhões de euros, focado também em jogadores provenientes da Liga portuguesa, ainda que habituados a lutar por outros objetivos.
É verdade que Iván Jaime tem apresentado problemas físicos, e isso até pode servir também para justificar o regresso de Gabriel Veron ao Brasil, mas Fran Navarro também já saiu do plantel, ao fim de seis meses e apenas dois jogos a titular dos dez que somou. Nico González pode não conhecer os cantos à Liga, mas era titular no Valência e fez 37 jogos pela equipa principal do Barcelona.
Alguns reforços precisam mesmo de tempo, mas se essa é a norma, com lacunas por resolver há tanto tempo, então algo funciona mal na política de recrutamento. Por vezes fica a ideia que o treinador fica à margem do processo, mas Sérgio Conceição já garantiu que, se assim fosse, não estava lá «a fazer nada».
São indiscutíveis os méritos do treinador portista num contexto difícil, mas mesmo nos ciclos de vitória ficou a sensação de que é preciso tirar uma especialização para entrar nas suas opções. E isso aplica-se até a reforços internos, se recordarmos que Vitinha ainda teve de ir a Inglaterra para ficar habilitado a exercer o talento que já mostrava.
Se Diomande tivesse assinado pelo FC Porto, e não pelo Sporting, a esta hora talvez fosse suplente de Zé Pedro ou Fábio Cardoso.