Design e sustentabilidade, artigo de Roberto Naime – Portal EcoDebate

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[EcoDebate] Luciana Della Méa e Luiza Grazziotin Selau realizam relevante abordagem sobre sustentabilidade e design. Os parâmetros de sustentabilidade tem sido cada vez mais discutidos, em nível geral e em contextos específicos.
O atual sistema de produção se caracteriza por um ritmo acelerado, que se utiliza de recursos naturais renováveis e não-renováveis.
CARDOSO (2008) argumenta que o dilema do designer no contexto atual é conciliar as questões ambientais com o modelo econômico. Não se pretende, e nem é possível, cessar a produção e consumo.
A autopoiese sistêmica dominante necessita ser alterada. Pois hoje só o consumismo garante a manutenção dos círculos virtuosos da sociedade.
Aumento de consumo gera maiores tributos, maior capacidade de intervenção estatal, maior lucratividade organizacional e manutenção das taxas de geração de ocupação e renda. O consumismo precisa ser substituído pela ideia de satisfazer as necessidades dentro de ciclos.
Mas se busca mudar o ritmo em que ocorre, pois a longo prazo, é insustentável.
Neste contexto, VEZZOLI (2010) argumenta que o design é uma parte do problema. Mas pode vir a se tornar um agente promotor da sustentabilidade ao buscar novas alternativas de projeto.
Um outro mundo é possível, mesmo dentro da livre iniciativa. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoiese sistêmica para o arranjo social, é urgente.
O termo, de acordo com MANZINI e VEZZOLI (2002) caracteriza-se pela composição dos termos ecologia e design, ou seja, um modelo orientado por requisitos ecológicos.
Por isso se sabe que leis e normas não vão resolver os problemas, embora sejam relevantes. A civilização humana determinará nova autopoiese sistêmica, na acepção de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio.
Que é um sistema instável, muito frágil e vulnerável. Para sua própria sobrevivência, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.
Design, em sua acepção mais abrangente, se caracteriza por ser uma atividade projetual que visa à concepção de artefatos (MANZINI E VEZZOLI, 2002).
Neste processo de concepção, e em seu ciclo de vida, os artefatos geram impactos no meio ambiente, sendo que é responsabilidade do designer orientar esse processo por critérios ecológicos.
Tendo em vista o papel do designer nessa mudança de cenário, é importante que, desde a sua formação, o profissional seja preparado para lidar com as questões ambientais ao longo do projeto.
A sustentabilidade teve suas primeiras manifestações no âmbito da preservação ambiental nos anos 1960. Posteriormente evoluiu. O design se inseriu no desafio devido ao “seu papel de protagonista dentro da trilogia ambiente, produção e consumo” (DE MORAES, 2010).
A importância de estudar as questões da sustentabilidade se deve ao fato de que é clara a situação de degradação na qual o planeta se encontra.
É necessário que as pessoas em processo de formação de conhecimento e opinião compreendam as condições atuais, de impactos.
MANZINI e VEZZOLI (2002) afirmam que é possível conceber produtos mais sustentáveis, utilizando-se tecnologias limpas, reduzindo-se recursos e energia utilizados na produção, dentre alternativas que se caracterizam como novo campo de pesquisa do design.
Dentre as abordagens sustentáveis possíveis, o ecodesign ou design do ciclo de vida, apresenta-se como uma alternativa em bom nível de consolidação, mas em nível discreto de incorporação na prática profissional, conforme sugere VEZZOLI (2010).
O ecodesign concebe de forma sistêmica a redução de impactos ambientais durante todas as etapas do ciclo de vida do produto.
Esta necessidade de novos caminhos no âmbito projetual, aponta a responsabilidade do designer em conceber artefatos utilizando materiais e processos de baixo impacto ambiental. Considerando o ciclo de vida inteiro do produto e atuando de forma orientada para a sustentabilidade ambiental.
O ciclo de vida compreende as etapas de pré- produção, produção, distribuição, uso e descarte, acarretando impactos (KAZAZIAN, 2005).
A abordagem de ecodesign propõe a minimização destes, através da redução do consumo de recursos, de energia utilizada nos processos, na maior durabilidade dos produtos, entre outros fatores relacionados a cada uma das fases do ciclo de vida.
CARDOSO (2008) aponta o profissional de design como o agente capaz de projetar com uso mais eficiente dos recursos, maximizando o aproveitamento dos materiais consumidos.
Se os resíduos descartados são uma das ameaças ao meio ambiente, a reciclagem e o reaproveitamento aparecem como alternativas de design sustentável.
O projetista deve pensar no tempo de vida do objeto, desde sua concepção, reduzindo matéria-prima e energia, até o descarte. Também precisa considerar a durabilidade do produto e sua posterior reutilização e reciclagem.
O design orientado para a sustentabilidade é um novo campo de pesquisa na área, no qual se buscam novas alternativas de produtos e processos, que minimizem os impactos ambientais decorrentes do sistema de produção e consumo vigente.
A abordagem de ecodesign é uma estratégia importante, pois considera o ciclo de vida dos produtos, o que compreende uma visão sistêmica e integrada.
O designer deve atuar no desenvolvimento de projetos considerando estes fatores. MANZINI e VEZZOLI (2002) argumentam que o desenvolvimento de produtos sustentáveis requer uma nova capacidade de projetar, para que se encontrem soluções promissoras que despertem desejo do consumidor.
Para tanto, é importante que essa cultura sustentável no desenvolvimento de projetos ocorra desde a vida acadêmica, na formação do profissional.
O ensino de design basicamente mistura teoria e prática desde as primeiras escolas de ensino superior de design na Alemanha que serviram de base e inspiração para as que surgiram no Brasil.
É necessário que os profissionais responsáveis pela colocação de produtos no mercado tenham conhecimento sobre sustentabilidade, considerando, em seus projetos, materiais de menor impacto ambiental, utilização de processos industriais menos agressivos e desenvolvimento de produtos ecologicamente aceitáveis.
O design não é solução para tudo, mas é uma ferramenta fundamental para um novo arranjo de equilíbrio civilizatório.
 
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
 
Referências:
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. 3. ed. São Paulo: E. Blucher, 2008. 273 p.
DE MORAES, Dijon. Metaprojeto: o design do design. São Paulo: Blucher, 2010.
KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: SENAC São Paulo, 2005. 194 p
MANZINI, Ezio. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 103 p
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2002. 366 p.
PAPANEK, Victor. Design for the Real World: Human Ecology and Social Change. United Kingdom: Thames & Hudson, 2006. 394 p.
VEZZOLI, Carlo. Design de sistemas para a sustentabilidade: teoria, métodos e ferramentas para o design sustentável de “sistemas de satisfação”. Salvador: EDUFBA, 2010. 343 p
http://www.autossustentavel.com/2015/04/design-orientado-para-sustentabilidade.html#ixzz3sKoH8fyy
 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/05/2019
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