Truques de design podem influenciar os usuários a consumir conteúdos ou produtos
Por Daniel Fitton
A maioria dos sites recebem os visitantes com um pop-up. Esse incômodo impedimento à sua navegação contínua na web é chamado “banner de cookie” e existe para garantir o seu consentimento, segundo as leis de privacidade online, para que os sites retenham informações sobre os usuários entre as sessões de navegação.
O banner de cookie oferece uma escolha: consentir apenas com os cookies essenciais que ajudam a manter sua funcionalidade de navegação ou aceitá-los todos —incluindo cookies que rastreiam seu histórico de navegação para vender a empresas de publicidade direcionada. Como esses cookies adicionais geram receita extra para os sites que visitamos, os banners de cookies costumam ser projetados para induzi-lo a clicar em “aceitar todos”.
O Reino Unido recentemente pediu aos países do G7 que tratassem desse problema, destacando como os usuários da web têm concordado, cansados, em compartilhar mais dados pessoais do que gostariam. Os usuários dos Estados Unidos estão, presumivelmente, também cansados. Mas, na verdade, banners de cookies manipuladores são apenas um exemplo do que é chamado de “dark design” (design escuro, em tradução livre) –a prática de criar interfaces de usuário intencionalmente projetadas para enganar o usuário.
O dark design comprovou ser uma maneira incrivelmente eficaz de encorajar os usuários da web a gastar seu tempo, dinheiro e privacidade. Isso estabeleceu “dark patterns” (padrões escuros, em tradução livre), ou conjuntos de práticas que os designers sabem que podem usar para manipular os usuários da web. Eles são difíceis de detectar, mas são cada vez mais prevalentes nos sites e aplicativos que usamos todos os dias, criando produtos que são manipuladores por meio do design, muito parecidos com os persistentes e sempre presentes pop-ups que somos forçados a fechar quando visitamos um novo site.
Banners de cookies continuam a ser a forma mais óbvia de dark design. Você notará como o botão “aceitar tudo” é grande e alegremente destacado, atraindo seu cursor em uma fração de segundo após sua chegada em um site. Enquanto isso, os botões deselegantes e menos proeminentes de “confirmar escolhas” ou “gerenciar configurações” –aqueles por meio dos quais podemos proteger nossa privacidade –nos assustam com cliques mais demorados.
Você saberá por experiência em qual deles você tende a clicar. Ou você pode experimentar o Cookie Consent Speed-Run, um jogo online que mostra como é difícil clicar com o botão direito diante de um design escuro.
Sites de comércio eletrônico também costumam usar dark patterns. Digamos que você encontrou um produto com preço competitivo. Você cria uma conta, seleciona as especificações do produto, insere os detalhes de entrega, clica na página de pagamento –e descobre que o custo final, incluindo a entrega, é misteriosamente mais alto do que você pensava. Esses “custos ocultos” não são acidentais: o designer espera que você simplesmente realize o pedido em vez de gastar ainda mais tempo repetindo o mesmo processo em outro site.
Outros elementos de dark design são menos óbvios. Serviços gratuitos como Facebook e YouTube monetizam sua atenção, colocando anúncios à sua frente enquanto você rola, navega ou assiste. Nessa “economia da atenção”, quanto mais você rola a tela ou observa, mais dinheiro as empresas ganham. Portanto, essas plataformas são otimizadas de forma intencional para comandar e reter sua atenção, mesmo se você preferir fechar o aplicativo e começar o dia. Por exemplo, o algoritmo elaborado por trás das sugestões de próximos vídeos do YouTube pode nos manter assistindo por horas, se permitirmos.
Manipular usuários para ganho comercial não é um expediente usado só em sites. Hoje, mais de 95% dos aplicativos para Android na Google Play Store são gratuitos para baixar e usar. Criar esses aplicativos é um negócio caro e exige equipes de designers, desenvolvedores, artistas e testadores. Mas os designers sabem que eles vão recuperar esse investimento assim que estivermos viciados em seus aplicativos “gratuitos” –e eles fazem isso usando dark design.
Em uma pesquisa recente que analisou jogos gratuitos baseados em aplicativos populares entre os adolescentes, meu colega e eu identificamos dezenas de exemplos de dark design. Os usuários são forçados a assistir a anúncios e encontram anúncios disfarçados que parecem parte do jogo. Eles são solicitados a compartilhar postagens nas redes sociais e, à medida que seus amigos entram no jogo, são solicitados a comprar no aplicativo para diferenciar seus personagens dos de seus colegas.
Parte dessa manipulação psicológica parece inadequada para usuários mais jovens. A suscetibilidade dos adolescentes à influência de seus pares é explorada para encorajá-las a comprar roupas para avatares no jogo. Alguns jogos promovem imagens corporais prejudiciais à saúde, enquanto outros demonstram e incentivam ativamente o bullying por meio da agressão indireta entre os personagens.
Existem mecanismos para proteger os usuários jovens de manipulação psicológica, como sistemas de classificação etária, códigos de prática e orientações que proíbem especificamente o uso de dark design. Mas isso depende de os desenvolvedores entenderem e interpretarem esta orientação corretamente. No caso da Google Play Store, os desenvolvedores avaliam seu próprio trabalho, e cabe aos usuários relatar quaisquer problemas. Minha pesquisa indica que essas medidas ainda não estão se mostrando totalmente eficazes.
O problema com o dark design é que é difícil de detectar. E os dark patterns, estabelecidos na caixa de ferramenta de cada desenvolvedor, se espalham rapidamente. Os designers raramente conseguem resistir quando aplicativos e sites gratuitos competem por nossa atenção, com base em métricas como “tempo na página” e “taxa de conversão do usuário”.
Portanto, embora os banners de cookies sejam irritantes e com frequência desonestos, precisamos considerar as implicações mais amplas de um ecossistema online cada vez mais manipulado por design. O dark design é utilizado para influenciar nossas decisões sobre nosso tempo, dinheiro, dados pessoais e consentimento. Mas uma compreensão crítica de como os dark patterns funcionam e o que eles esperam alcançar pode nos ajudar a detectar e superar seus truques.
Dan Fitton é professor em design de user experience na University of Central Lancashire. Este artigo é republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Texto traduzido por Sophia Lopes. Leia o original em inglês.
O Poder360 tem uma parceria com duas divisões da Fundação Nieman, de Harvard: o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports. O acordo consiste em traduzir para português os textos do Nieman Journalism Lab e do Nieman Reports e publicar esse material no Poder360. Para ter acesso a todas as traduções já publicadas, clique aqui.
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