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Ilustrador e conhecido nacionalmente pelas tirinhas publicadas em suas redes sociais, o paraibano Paulo Moreira aborda linguagem próxima da realidade em situações rotineiras, tornando os momentos cômicos, mas não deixando de lado as críticas políticas. Em seu Instagram, o artista conta com mais de 180 mil seguidores e já teve trabalho repostado pelo ator Will Smith, o que marcou um dos ápices na sua trajetória. Em convenções de quadrinhos, as filas para encontrá-lo são imensas e representam, para ele, a concretização do resultado no universo virtual.
Desde criança, Paulo teve facilidade de se comunicar pelas criações de desenho, que fazia em papel carbono ou colocava a folha em frente à tv para copiar as silhuetas. Ainda durante a infância, foi matriculado pela mãe em um curso de pintura em tela, como uma possibilidade de estimular ainda mais o talento. “Desenhar sempre foi um hobby até o ensino médio, quando tive que escolher um curso superior e entrei para Mídias Digitais”, explica.
Na época, Paulo não publicava suas produções porque diz que sentia vergonha e que acreditava que as situações retratadas só tinham graça para ele. “Quando entrei no curso de Mídias Digitais e me deparei com tanta gente que também criava, me senti motivado a postar e divulgar mais as minhas coisas”, lembra. Foi quando ele criou uma página no Facebook e começou a postar. “Percebi que era o que eu gostava de fazer de verdade e criei também um perfil no Instagram e no Twitter. Quando me dei conta, estava só fazendo as tirinhas”. Paulo, que diz ter se encontrado nas tirinhas, lembra de outros trabalhos que já fez na área criativa. “Já fiz capa de livro de RPG, já trabalhei quase dois anos em estúdio de tatuagem criando os desenhos pro tatuador, já fiz muita caricatura”.
Ao trancar o curso de Mídias Digitais, Paulo começou a cursar Design Gráfico e seguiu produzindo os quadrinhos. Para o Trabalho de Conclusão de Curso, o ilustrador decidiu publicar uma história em quadrinhos autoral: Operação Dragão Negro, através de uma plataforma de financiamento coletivo. “Sempre pensava em criar, mas nunca tinha coragem de fazer. Quando abri para receber as colaborações financeiras, percebi que muita gente curtia o meu trabalho. Foi uma época em que eu produzi mais tirinhas, entre 2017 e 2018, quando fui para a CCXP pela primeira vez, em São Paulo”. Paulo, que nunca tinha ido além da região do Rio Grande do Norte e Pernambuco, ficou surpreso com a receptividade do público no evento, quando levou sua primeira publicação especificamente de tirinhas: Mar Menino. “Quando cheguei por lá, vi que muita gente conhecia meu trabalho já que, na minha cabeça, era mais o pessoal daqui com quem eu sentia que me comunicava mais diretamente. Mas ali eu percebi que o negócio era maior do que eu imaginava”.
No fim de 2018, o ilustrador começou a receber propostas de parcerias com marcas para publicação em suas páginas. “Aos poucos o trabalho com as tirinhas foi tomando conta do meu tempo”, comenta, adiantando que não percebe tanta influência direta de outros quadrinistas e ilustradores, mas destaca o trabalho de Shiko e de seu amigo pessoal, Gabriel Jardim. “Sempre fui mais de ver filme e desenhos na televisão, mas os trabalhos de Shiko sempre eram fonte de inspiração”. Sobre as situações rotineiras que marcam a maior parte de sua temática, ele tira as referências de onde estiver, com seu iPad em mãos. “Quando eu vou para a casa da minha avó, por exemplo, as conversas com ela e com as minhas tias sempre rendem muito material”.
Um dos ápices de sua carreira foi quando recebeu várias mensagens ao mesmo tempo e afirmando a mesma coisa, sobre algo que parecia inimaginável. Quando Will Smith repostou uma ilustração do paraibano na página do Instagram, ele não acreditou de imediato. “Achei que a conta não era realmente dele, mas depois vi que ele não só postou como marcou o meu perfil. Foi muito massa porque eu gosto muito dos trabalhos que ele faz”, diz e reforça a importância de reconhecimentos deste tipo que enaltecem o trabalho do artista.
Outro momento de destaque mais recente, para o autor de Ana, Mosquinha e a Lagatixinha, foi se deparar com trios de amigos fantasiados de seus personagens. O fato de receber tanta curtida em seus posts e de ter tantos seguidores é, para Paulo, algo que não dá para sentir tanto quanto ver pessoalmente e ver situações como as filas das convenções que participa.
“Quando cheguei na CCXP fui organizando minhas coisas, quando sentei na cadeira já começaram a formar uma fila e muita gente conversava comigo com intimidade, como se já me conhecesse pessoalmente”, lembra, especificando sobre uma senhora que chorou ao encontrá-lo. “Ela contou que uma amiga da filha dela gostava muito das minhas tirinhas e que elas a ajudavam muito. Esse tipo de retorno é o que mais vale a pena e incentiva. É muito bom ter esse contato nas redes sociais, mas ver ao vivo é muito mais forte”, lamenta Paulo, por lembrar que esse tipo de encontro por enquanto não pode ser considerado, devido ao isolamento social.
Contextos que inspiram e nova rotina de trabalho
Uma série de tirinhas que se transformou em seu mais recente lançamento, no final de 2019, Ana, Mosquinha e Lagatixinha teve início a partir da espera no aeroporto por uma amiga que acabou se tornando a atual namorada, como explica Moreira, que anda sempre com o iPad em mãos. “Estava no aeroporto e comecei a rabiscar uma aranha tecendo a teia, prendendo uma mosca. Com isso eu levei para casa e desenhar a primeira tirinha. Então depois a série foi surgindo naturalmente, com a criação da mosca e da lagartixa, que formavam um grupinho. Comecei a postar mais coisas com eles e o pessoal sempre se identificou muito, o que me instigou a continuar até que, no final do ano passado, eu consegui publicar o livreto”.
Apesar de ser um contexto fantasioso, os diálogos trabalhados são focados nas situações diárias vivenciadas por Paulo. “Eu gosto de pegar uma situação que seja impossível, como uma lagartixa, mosca e aranha mexendo no celular como se fossem pessoas de verdade. É algo com que o pessoal se identifica mais”, explica. Além disso, Paulo procura atribuir em seus diálogos retratados, o mais próximo possível do nosso sotaque e jeito de falar informalmente. “A gente tem um jeito próprio de falar, às vezes não falamos as palavras completas, às vezes não falamos o plural de algumas coisas, então eu procuro deixar as conversas o mais real possível”.
Paulo Moreira que tem buscado produzir e seguir uma rotina durante o período de quarentena, adianta que está se organizando para lançar novos projetos ainda neste ano. “Sempre tento manter uma frequência de postagem, para não ficar parado, mas também estou tirando uma ideia para fazer novos quadrinhos em breve. Ficar em casa sem nada para fazer é complicado, essa é uma maneira de me obrigar a escrever e produzir”. Os planos de publicar um novo livro neste ano seguem ativos, adianta o ilustrador. “Tem uma compilação de coisas que já foram postadas e uma outra história que estou escrevendo, mais longa. Mas que também pretendo lançar neste ano”, afirma. A nova história se baseia nas mensagens de “bom dia”, bastante presentes em grupos de WhatsApp, mas ainda não tem título.
*publicado originalmente na edição impressa de 16 de maio de 2020. A versão acima está com pequenas alterações.
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