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Adeptos da decoração boa, bonita e barata, jovens fazem sucesso na web com dicas práticas e acessíveis – O Globo

A casa das gerações mais novas anda um tanto “instagramável”. Paredes coloridas, móveis herdados ressignificados e plantas, muitas plantas, deixaram para trás aquela imagem de lar improvisado, que denunciava os parcos recursos de quem acabou de deixar o ninho dos pais. Alguns expoentes dessa leva de jovens, inclusive, fazem sucesso nas redes ao compartilhar suas experiências e mostrar como é possível deixar os cômodos mais aconchegantes sem gastar muito.
“Acho que rompemos com essa ideia de viver a angústia de só ter uma casa do jeitinho que queremos quando comprarmos uma, depois de muitos anos”, avalia o fotógrafo e jornalista Matheus Ilt, de 25 anos, uma das estrelas dessa turma. “Não vejo nossa geração se matando de trabalhar para comprar casa, carro e constituir família, com filhos e cachorros.”
Ele diz isso baseado em sua própria experiência. Enquanto morou com os pais, em Curitiba, não podia dar palpite na decoração, que define como “superbásica”, sem muito espaço “para cores e coisas divertidas”. Quando montou um apartamento com o namorado, em 2017, tratou de deixar a sua marca no imóvel com técnicas que aprendeu com o pai, para economizar na mão de obra. Matheus começou pela cozinha, onde pendurou uma escada no teto para usar como suporte para panelas e fez uma bancada funcional com madeira.
Suas ideias criativas fizeram tanto sucesso, que logo choveram seguidores (já são mais de 320 mil). Agora, ele acaba de se mudar para São Paulo, de onde comandará o programa “Arrasta móveis”, no canal GNT. Na atração, que estreia em agosto, Matheus ajudará, por meio de mensagens e vídeos, telespectadores a reconfigurarem as suas casas. “Acho que o fato de eu não ser formado em Arquitetura ou Design faz com que as pessoas se identifiquem ainda mais, ao me perceberem como alguém que só quer arrumar um canto para viver.”
O arquiteto Igor Miranda, de 30 anos, também é um expoente dessa cena. Ele saiu da casa de sua mãe, pela primeira vez, para um intercâmbio em Roma, durante a faculdade. Na ocasião, dividiu quarto com um colega, num imóvel onde não podia fazer intervenções. Mesmo assim, deu um jeito de deixar o espaço mais pessoal. “Grudamos tachinhas na parede e enrolamos algumas linhas onde penduramos fotos. É muito ruim cair num espaço todo branco, você nunca vai se identificar com ele”, ilustra.
Hoje morador de Juazeiro do Norte, no Ceará, o arquiteto Igor segue inventando moda. Investiu em equipamentos, como furadeiras, para poupar gastos com instalações, e ensina como usá-los em seu Instagram (@igormp). Por lá, também coleciona alguns achados. Recentemente, comprou uma cadeira macarrão por R$ 30, que ficou um charme no quarto. “É algo que poderia ser visto como cafona num outro contexto. Mas, se bem colocado, traz aquela memória afetiva, com cara de casa de vó”, diz ele, que também investe muito nas plantas e enxerga o lar como um laboratório. “Vou experimentando e contando para as pessoas. Com essas intervenções, conseguimos transformar até um apartamento alugado num ambiente agradável e não sentimos aquela necessidade de sair de casa o tempo inteiro”, completa, sobre algo que vem a calhar em tempos de quarentena.
Depois de passar parte da infância dividindo um colchão com a mãe e o irmão e tendo a caixa do fogão como guarda-roupa, numa quitinete no Morro do Banco, no Rio, a produtora de conteúdo Nathaly Dias cresceu com o sonho de morar num espaço aconchegante. Dona do perfil @blogueiradebaixarenda, com mais de 156 mil seguidores, ela fez isso assim que pode. “Comecei a fazer faculdade, e as coisas foram melhorando. Não quero nada luxuoso, até porque sou pobre ainda, mas gosto de deixar a casa com cara de casa mesmo.”
Aos 27 anos, ela mora com o namorado na mesma comunidade onde cresceu, e as postagens sobre suas intervenções fazem o maior sucesso. Ela já teve uma cozinha decorada com adesivos de azulejo comprados numa loja de R$ 1,99, reformou um sofá que uma vizinha jogaria no lixo e transformou uma porta numa mesa cheia de bossa. “Tiro muitas ideias da internet. Tenho uma pastinha no Pinterest, onde vou guardando referências”, revela a jovem, que detesta “núcleo pobre de novela”. “Fazem tudo estereotipado.”
E já que driblar a falta de grana se faz necessário, Julia Forti, de 23 anos, e o marido Guilherme Honorato, de 27, viraram especialistas nessa arte, quando precisaram montar uma casa em Iracemápolis, no interior de São Paulo. A jovem já tinha um canal de beleza e autoestima no YouTube e mostrou as primeiras criações por lá. Deu tão certo que virou o “Casal à obra por Julia e Gui”, na mesma plataforma. Entre os hits estão uma luminária industrial feita com palitos de churrasco e uma parede com tijolinhos de isopor.
“Na internet, tem muita casa de blogueira, que é mobiliada da noite para o dia, com permuta. A gente mostra algo mais real, conquistado aos poucos, em que o lar se transforma junto com o morador”, compara Julia. “Acho que as pessoas se identificam mais.”
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