O que faz de um programador um rock star? – IT Forum – IT Forum

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“Você é ótimo cantando no chuveiro, mas há um rock star dentro de você!” É o que diz a primeira linha de um anúncio de emprego colocado pela Viget Labs em dezembro na tentativa de preencher uma posição júnior para “programador aspirante a estrela de rock” Ruby on Rails.
Emma, um serviço de marketing baseado na web, pergunta: “Você é uma estrela de rock PHP?” A corretora online Redfin procura uma estrela de rock AJAX, a rede social BrighKite quer uma estrela de rock Ruby e a desenvolvedora de software Backstop Solutions Group está em busca de uma estrela de rock Java.
Quando foi que os programadores se igualaram a estrelas e tudo que os envolve — fama, ego, talento fenomenal, paixão obsessiva, genialidade a ponto da autodestruição, exigências de emprego absurdas e fãs enlouquecidos?
Alguns creditam ao crescimento repentino das start-ups Web 2.0 e à conseqüente demanda por talento. “O motor da inovação está girando em alta velocidade novamente e isso significa mais start-ups e mais dinheiro de venture capital”, explica David Hayes, presidente da empresa de recrutamento HireMinds.
E não há nada como um mercado de trabalho aquecido, diz ele, para revelar os egos. “A taxa de emprego para profissionais de tecnologia é extremamente elevada e isso dá a algumas pessoas a sensação de que, agora e para sempre, estão no controle dos seus próprios destinos.”
Outros dizem que o fenômeno tem raízes no alarido crescente e nos grandes prêmios das competições de código, em especial as promovidas pela TopCoder, que oferece até 50 mil dólares para os primeiros colocados e agora abriga o TopCoder Open anual em Las Vegas, a Meca do entretenimento.
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“É o espírito do entretenimento que tomou conta de uma pequena área do mundo da programação”, diz Paul Glen, consultor em gestão de TI e autor de Leeding Geeks. Um vencedor freqüente destas competições, Tomasz Czajka (conhecido neste meio como Tomek), adquiriu status de celebridade na mídia polonesa e em Varsóvia, sua cidade natal.
Chegou a ter uma música escrita sobre ele pelo MC Plus+, um “geeksta rapper” (sim, tal coisa existe). Outro, Derek Kinsman, que atende pelo apelido de “Snapdragon” e mora no Canadá, é reconhecido às vezes, e uma delas aconteceu quando jantava em um restaurante.
Jim McKeown, diretor de comunicação da TopCoder, viu o status social dos vencedores freqüentes crescer significativamente nos últimos quatro a cinco anos, sobretudo por causa da “incrível busca das empresas mais abonadas por talento”, diz. “Antes eles eram indivíduos brilhantes, mas não muito conhecidos.”
Outros apontam para a facilidade atual de atrair fãs e fama, mesmo que pequenos, nos mundos online e físico: blogs, sites de software open source, sites de compartilhamento de conteúdo como o Digg e conferências concebidas para programadores ávidos, como o Foo Camps, evento anual de hackers só para convidados patrocinado pela O’Reilly Media.
Desenvolvedores que lideram projetos de software importantes, como Linus Torvalds, sempre alcançaram o status de estrelas em suas comunidades, ressalta Dan Helfman, veterano desenvolvedor e fundador do Coderific, site de classificação de funcionários, que recentemente escreveu uma crítica ácida contra codificadores arrogantes. Embora ele não pense que este tipo de comportamento seja percebido pelo público em geral, é muito presente na comunidade de TI.
“Alguns desenvolvedores baseiam suas carreiras na perspectiva de um dia se tornarem estrelas”, diz Helfman. “Outros fazem devoções no altar virtual das celebridades de software, agarrando-se a cada palavra dos seus posts em mailing lists ou blogs.”
Mas é flagrante a diferença entre quem se tornou popular antes de 2007 e quem alcançou celebridade desde então, observa Clinton Nixon, desenvolvedor sênior da Viget Labs, empresa de design, desenvolvimento e consultoria para web.
Basta visitar os sites de gurus da programação à moda antiga, como Joel Spolsky ou Paul Graham, e comparar com os de indivíduos como Obie Fernandez, o qual, para criar sua imagem na web, recorreu à ajuda de um fotógrafo comercial que trabalha com estúdios de modelagem.
Tem também Zed Shaw, cujo blog irreverente é repleto de histórias arrogantes sobre sua superioridade – talvez seja só fingimento, mas, de qualquer forma, é um show e tanto. Outro programador que é visto como alguém com ego inflado (seja ou não verdade) é Kyle Brady, que literalmente se autodenomina um “programador rock star” e admite ter um ego enorme, mas “não sem uma boa causa”.
Uma abordagem um pouco mais amena, mas ainda assim extremamente criativa, é a do programador com a bizarra alcunha “why the lucky stiff”, que em seu blog fala sobre seu amor por violar código e muitos outros assuntos, entre eles a participação na banda Thirsty Cups.
Segundo Nixon, um dos fatores responsáveis por esta mudança de estilo é simplesmente a constante mutação da cultura da internet, graças ao crescimento das redes sociais. A nova geração de programadores cresceu em uma era em que a norma é criar uma imagem de si mesmo online.
“Vivemos na era da celebridade individual, autopromovida em nichos de mercado, onde alguns programadores realmente trabalham na promoção dos seus conhecimentos e acabam sendo reconhecidos por qualquer pessoa que passe algum tempo lendo weblogs e sites estilo Digg”, diz Nixon.
Ele também aponta para a tendência do aumento de pessoas ingressando no mundo do desenvolvimento com background em web design. “A imagem agora é um dos elementos que compõem um desenvolvedor famoso, assim como a imagem de um designer é uma peça importante do seu portfólio.”
Celebridades repercutem
Talvez seja esta nova geração de desenvolvedores conscientes de sua imagem que esteja repercutindo junto aos empregadores, particularmente os de start-ups Web 2.0. A combinação de talento, paixão, criatividade, confiança e destemor de expor seu código e suas idéias ao resto da comunidade de desenvolvedores é uma característica que as empresas buscam quando colocam estes anúncios para atrair estrelas. E, quando você ultrapassa a estranheza de alguns sites, vê que seus autores publicaram livros, fundaram empresas, escreveram código descarregável e falaram em conferências.
De acordo com Brian Williams, CEO da Viget, as qualidades de Nixon se aproximam do que ele busca em uma estrela da programação. Além de trabalhar na Viget, Nixon, 31 anos, cria e publica role-playing games; é co-fundador da comunidade de role-playing games Forge; mantém um blog desde 1999; é apresentador em conferências como a O’Reilly Open Source Convention; e participa de Rails Rumbles.
É autodidata e começou a programar na pré-adolescência e atualmente se dedica à obtenção do grau de bacharel em Ciências. Está interessado tanto em aprender quanto em ensinar Ruby a outros.E se apresenta em público tocando ukelele.
“Para nós, um desenvolvedor rock star se resume a duas coisas: talento e paixão”, diz Williams. Em outras palavras, ou você tem ou não tem. Você pode se tornar um pensador criativo ou um solucionador de problemas melhor, mas, “em última análise, ou você tem o talento natural para atingir o status de ‘rock star’ ou não tem.”
Talento é inútil sem paixão. “Desenvolvedores excepcionais têm paixão por seu código, sua empresa, seus clientes, seus colegas de trabalho e a comunidade em geral”, afirma Williams. “Eles são ambiciosos em relação ao crescimento profissional e lutam para ganhar o respeito de seus pares simplesmente fazendo trabalho inovador e compartilhando-o.”
Segundo Patrick Reagan, diretor de desenvolvimento da Viget, a empresa “está em busca daqueles que, quando estão frustrados no trabalho diário, depois do expediente se dedicam a aprender novas linguagens e frameworks e hackear projetos open source”.
Nixon não se considera um “rock star” e mantém um blog que está mais para humilde do que para exibido, mas entende o que seu empregador quer dizer com esse termo. “Obviamente, eles não estão à cata do primo do Mick Jagger que conhece Ruby”, diz. Eles querem alguém que tenha profundo conhecimento tecnológico e o desejo e a habilidade para ser uma figura pública, interagindo com outros programadores e, como observa Nixon, “clientes fascinantes e sua genialidade”.
A Viget quer o tipo de pessoa que organiza Bar Camps, fala em conferências e publica seus achados e seu código para outros verem. “Para ser franco, não queremos o estereótipo de um programador sujo, com a barba mal-feita, vestindo uma camiseta surrada e suja de pizza, por mais que ele saiba codificar”, explica Nixon. “Queremos alguém com boa aparência e empenhado em se sobressair no campo escolhido.”
Will Weaver, presidente do Emma, concorda com algumas destas idéias. “Queremos alguém que seja tão bom ou melhor que a média e faça alguma coisa incrível – alguém que encare o desenvolvimento como uma forma de arte, não apenas um meio para um fim, e queira criar algo memorável, não só fazer funcionar.”
Quanto ao ego, porém, deixe-o na porta. “Preferimos alguém com habilidades decentes, que saiba se comunicar, do que um gênio que tem que fazer tudo ao seu modo”, diz Weaver.
O argumento contra as celebridades
A advertência de Weaver explica por que tanta gente alerta os empregadores para terem muita consciência do que estão fazendo quando procuram as estrelas.
Para começar, este tipo de desenvolvedor talvez esteja mais interessado no trabalho empolgante de criar código do que na rotina de depurar, manter e entender os requisitos do negócio, diz Glen. “Muitos são viciados em criação. Quando você tenta melhorar incrementalmente ou estabilizar um sistema, eles cortam os pulsos.”
Muitos desenvolvedores deste calibre também podem ser ambiciosos, vislumbrando, algum dia, montar sua própria empresa e vendê-la por milhões. “Portanto, trabalhar em uma empresa por modestos 100 mil dólares por ano não é sua idéia de fama e fortuna”, diz J. Strother Moore, que chefia o departamento de Ciência da Computação na Universidade do Texas em Austin.
Kinsman, trabalhando atualmente no Google, reconhece que seu trabalho na vida real é mais tedioso e menos desafiador do que os problemas abstratos que vê nas competições de programação. “É muito importante que lhe sejam oferecidos desafios dignos deles”, orienta McKeown.
Outro problema é a arrogância que costuma acompanhar a genialidade e pode desmoralizar uma equipe inteira. “As pessoas correm riscos quando são tão inteligentes”, afirma Glen. “Elas começam a acreditar em sua própria genialidade.”
Glen conta que foi obrigado a despedir desenvolvedores famosos por causa do impacto negativo que tiveram sobre projetos. “Ao invés de usar seu talento para levantar todo mundo, eles o utilizaram para diminuir todo mundo. Não se trata da força bruta do intelecto, mas de como usá-lo.”
As empresas deveriam contratar alguém mais próximo de um regente de orquestra do que de um rock star, acrescenta Moore. “O mundo precisa de designers excelentes que trabalhem bem com a equipe.”
Helfman concorda. “Empresas e gerentes de contratação que buscam desenvolvedores famosos costumam ignorar outras questões importantes, entre elas o bom relacionamento com outras pessoas e a adoção de melhores práticas de engenharia de software”, diz. Muitos deles estão atrelados a uma linguagem de programação ou uma área de especialização específica e desprezam as demais.
Isso se torna um problema de fato quando, aos olhos do empregador, o desenvolvedor famoso não está fazendo nada errado. Helfman sustenta no seu blog que os melhores e mais brilhantes desenvolvedores não são estrelas. “Se não é algo que demanda cada grama de inteligência de seu corpo para ser feito, então não será feito”, escreve.
Na verdade, muita gente acha a nomenclatura e a cultura “rock star” detestáveis. Hayes argumenta que os desenvolvedores realmente bons não responderiam a ofertas de emprego que usam este termo. E os que respondem talvez sejam os mais iludidos.
Hayes lembra de ter entrevistado recentemente um candidato a emprego com apenas quatro ou cinco anos de experiência que deu a si mesmo a nota máxima 10 em uma auto-avaliação. “Visivelmente, ele se acha uma estrela, mas este tipo de atitude não funciona bem com muitos dos nossos clientes.”
“Eu quase acho o termo pejorativo”, concorda Moore. “Implica um tipo de arrogância que não vejo entre os melhores programadores que conheço, estes admitem suas limitações e programam tendo a outra pessoa em mente. Se você tiver que se auto-intitular um rock star, então você não é um deles.” Ou, como diz um blogger, “eu preferia ser um programador de jazz”.
A tendência entre os empregadores pode estar mudando. “Talvez o rótulo de rock star tenha sido usado exageradamente em postos de trabalho ligados a Rails. Da próxima vez, quem sabe, vamos experimentar ‘pirata Rails’ ou ‘guerreiro Ruby’”, sugere Reagan, da Viget.
O lado brilhante das estrelas
Mas nem tudo é ruim, diz Jack Hughes, fundador da TopCoder. A celebridade cada vez maior de desenvolvedores proeminentes – mesmo que nunca se infiltre na consciência do público – só irá elevar a percepção da profissão, assim como a maré cheia levanta todos os barcos. “Microsoft ou Google estariam onde estão sem estrelas da programação?” pergunta. “Não creio.”
E, embora Nixon concorde com aqueles que dizem que o termo “programador rock star” é tolo, não diminui sua utilidade. “Neste exato momento, estamos em um lugar onde a popularidade das idéias e das pessoas importa tanto quanto os méritos técnicos. “Não é o melhor critério para decisões de tecnologia ou contratação, mas as pessoas não são racionais.”

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