RIO — A primeira vez da dupla Elesbão e Haroldinho foi no fim dos anos 1990, com o fanzine “Design de bolso”. Era um manifesto, no qual os dois jovens de 20 e poucos anos, insatisfeitos com o trabalho que faziam, falavam “mal do design, da vida e do mundo”. Pouco tempo depois, eles criaram o hit “Funk do Star Wars”, que virou uma espécie de “Anna Julia” (sucesso do grupo Los Hermanos) da dupla. A música foi parar num CD pirata feito na Alemanha e, por causa dela, há quem ainda ache que eles são funkeiros.
Mas não são. Elesbão (José Bessa) e Haroldinho (Claudio Reston) são designers gráficos e, hoje, após um começo cheio de experimentações (algumas, eles admitem, bizarras), são os nomes por trás da Visorama Diversões Eletrônicas, um bem-sucedido estúdio que faz filmes de animação e ações publicitárias que bombam na internet. O filme “Animais valiosos”, rodado para a ONG Quatro Patinhas, viralizou e tem cerca de quatro milhões de visualizações na internet. O trabalho, bronze este ano no festival de publicidade de Cannes, foi filmado dentro de uma pet shop e capta a surpresa de clientes ao descobrirem que os bichos são para doação e não estão à venda. A dupla também faz clipes e aberturas de novelas e programas de TV, além de projetos autorais como o filme “Oscar Niemeyer — A luta é longa” (em que eles assinam a codireção e a produção) e um documentário sobre a finada casa de espetáculos Canecão.
UM NOME QUE DIZ MUITO
A história dos nomes Elesbão e Haroldinho costuma explicar como funciona a cabeça dos dois:
— Muitos nomes de estúdios e produtoras entregam muito da sua pouca criatividade. Queríamos chutar o pau, ter um nome que não tem nada a ver com nada — diz Elesbão, hoje mais conhecido assim do que pelo seu nome na carteira de identidade. — Elesbão era um personagem do TV Pirata que não tinha amigos. E Haroldinho vem de uma piada de salão da época. Era um cara supersocial.
Cinco anos depois do surgimento de Elesbão e Haroldinho, veio a Visorama, que começou com contribuições para a MTV. O estúdio foi criado com foco na animação, uma paixão dos designers, mas atualmente tem um portfólio bem amplo. Os dois costumam dizer que é difícil definir o que é a empresa.
— Tem gente que até hoje nos compreende como designers gráficos. Ao mesmo tempo, há quem leve um susto quando a gente faz algo de impresso ou de mídia interativa. É tudo linguagem visual, apesar de vertentes e aplicações diferentes — afirma Haroldinho.
O longa sobre Niemeyer (que tem codireção de Bernardo Pinheiro Mota), por exemplo, não segue o padrão dos documentários tradicionais. Apresentado em festivais, o filme está sendo negociado com um canal de TV e traz depoimentos de Niemeyer aos 103 anos.
— Utilizamos a linguagem gráfica de maneira pouco óbvia. É como se o Niemeyer estivesse rabiscando e desenhando durante o longa — conta Elesbão.
Ele e Haroldinho passaram a última semana debruçados sobre a abertura de uma novela, na nova casa da Visorama, na Fonte da Saudade. Com uma vizinhança de característica residencial, longe dos bares que frequentavam no antigo endereço em Botafogo, os dois têm ideias para o lugar (entre elas, claro, um barzinho), que promete virar ponto de encontro. De gente que faz e pensa design.
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